segunda-feira, 21 de junho de 2010

Tosse-de-teatro.

Voltei a ir ao teatro. O CCBB está com um evento muito bom: MIT - mostra internacional de Teatro, onde trupes internacionais apresentam seus espetaculos premiados e a preços módicos, R$ 7,50.

Os espetáculos fogem à linha comum, sempre saio da sala me perguntando se gostei ou não do que vi, pois tudo é tão diferente, ilógico e imprevisível que meu senso crítico teatral fica sempre desnorteado ao final.

Nos dias seguintes, fragmentos das peças surgem em minha mente e eu reanalizo, repenso, reinterpreto... algumas vezes eu até "redirijo" cenas e imagino que seria melhor de uma determinada maneira ou altero cenários, tilhas sonoras, etc.

Pode parecer presunção né? Eu, um cara que nem carro tem, redirigir peças consagradas internacionalmente. Mas pô, todo brasileiro não acha que é técnico e vive escalando jogadores de futebol melhores, táticas infalíveis e xingando de burro os técnicos? Então! Que mal tem eu repensar os espetáculos? (Faço isso com filmes tambem, confesso.)

Bom, tem um fato curioso que me faz rir muito sozinho, antes do inicio das peças. Não importa se a trupe é italiana, francesa, portuguesa... Não importa se é em teatro grande ou pequeno... Basta apagar a luz, após a terceira campainha e fazer-se o silêncio, que começa uma sinfonia de tossidas na platéia.

Já reparou? Então repare na próxima.

É uma espécie de reação em cadeia, uma avalanche, é só um começar e muitas pessoas tossirão. E não é aquela tosse sincera de cachorro não. É uma tossidinha boba, seca e envergonhada. Várias delas!

Nesse último espetáculo, contei quartoze tossidinhas no escuro, e aí caí na gargalhada sozinho e tive, então, que compartilhar minha teoria da tosse-de-teatro com o amigo que estava do meu lado.

Talvez tenha uma explicação ou várias.

Eu, por exemplo, tenho duas sensações muito fortes antes do início das apresentações. A primeira é medo de ser chamado ou arrastado ao palco.

Acho ridícula essa idéia de fazer a platéia ser parte do espetáculo. Estou pagando para assistir pô, não pra participar de cena nenhuma. Se eu quisse estar no palco eu seria ator e não fisioterapeuta. Maldito seja o primeiro diretor que teve essa brilhante idéia de arrancar alguém da penumbra de sua confortável cadeira numerada e arrastá-lo para cima do palco iluminado para fazer papel de idiota. Ainda tem essa! O pobre espectador sempre é ridicularizado no palco. Nunca dá um beijo técnico na atriz mais bonita ou resolve o misterioso crime, sempre passa vexame.

A outra sensação que tenho é vergonha alheia. Sei que os atores são profissionais, desprovidos desse sentimento bobo. Mas eu tenho vergonha por eles. Principalmente quando a peça é modernosa e começa com alguem dançando alucinadamente no palco sem que música alguma esteja tocando ou quando a pessoa grita numa língua inventada, que nem uma doida, com uma planta de plástico. Sempre temo que a primeira cena seja non-sense, me dá dó do artista.

Bom, dados os dois motivos que incomodam antes do inicio, quando a luz se apaga, ainda assim eu não tusso. No máximo suo na palma da mão ou balanço rapidamente os pés, mas eu simplesmente não tusso e não sei por quê tantas pessoas tossem.

Você pode até estar argumentando que não tem como segurar tosse ou espirro. Mas eu sei que são tosses de mentirinha. Porque quando entra o primeiro ator no palco a tosse coletiva cessa de imediato. Ninguém mais irá dar uma tossida sequer, até o fim da peça. A não ser que, num intervalo entre as cenas, apaguem-se todas as luzes e o palco fique silencioso novamente.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Casamentos e Entrega do Oscar


Fui num casamento de um grande amigo dia desses e fiquei pensando em como as pessoas gastam horas se arrumando para estar ali. Imagino quanto tempo as pessoas não gastariam para se arrumar para a entrega do Oscar.

Bom, pessoas não. Mulheres né?!

As mulheres gastam horas no salão se montando, arrumando cabelo e maquiagem. Para nós homens, pode até parecer um penteado aleatório. Mas tenho certeza que não é. Por isso no salão tem tantas revistas de moda e celebridades. Aposto que elas pedem para que seja reproduzidas em suas madeixas, obras de arte capilares realizadas em atrizes, apresesentadoras, cantoras de axé e afins.

A mesma coisa deve acontecer com a maquiagem. Possivelmente é inspirada em algum “look” de novela. Confesso que só reparo quando alguém erra no lápis de olho (que nem deve ter mais esse nome) e fica a cara da Amy Winehouse. Que cá entre nós eu gosto muito, mas tenho a impressão que ela não é muito chegada em ir à cerimônias de casamento.

Nós homens, pegamos o primeiro terno que esta pela frente, normalmente o único e geralmente só utilizado para ir a casamentos mesmo. Com ele, sentimos um calor danado, um desconforto, uma irritação medonha e fazemos uma promessa mental de nunca mais ir a casamentos. A não ser que o cara já trabalhe de terno e nesse caso não se sentirá desconfortável mesmo, mas aposto que perde o gosto de roupa-de-festa.

Nossa jóia é o único relógio de ”sair” que temos e geralmente aquele “de ponteiro”, e sapato também é o único que combina com o terno. Um preto. A única e difícil escolha que temos que fazer é a gravata.

Já as meninas... ah o vestido de casamento! É uma escolha muito elaborada que leva em conta muitas variáveis. É muito mais intrincado do que escolher um modelo de carro novo para comprar. Depende da época do ano, depende do horário da festa, depende do penteado que irá plagiar de alguma famosa, depende do sapato (afinal ele tem que aparecer) e, obrigatoriamente, precisa despertar a inveja das amigas.

Acha que estou exagerando? Pergunte a uma mulher para quem se arrumam tanto?

Quando (raramente) vou a um casório, me sinto na Grécia. Os vestidos parecem quase todos vindos de lá. Quem já viu qualquer filme que retrate a Grécia antiga sabe do que estou falando. Assim como os penteados, as maquiagens e os sapatos altos de amarrar na canela, que descobri que chamam : sapato-gladiadora. Huahauauha.

Descobri, também, que as cores dos vestidos não tem mais os nomes que aprendemos na escolinha, elas tem nomes fashionistas como: pêssego-azulado, rosa-paris ou salmão-guiné. Esse negócio de vestido azul claro ou quase-laranjado acabou.

Para não dizer que não reparo em nada na igreja, existem dois tipos de convidadas que são meu “espanta- tédio”, enquanto espero horas pela noiva, que vai gastar horas sendo maquiada e penteada por algum viado mercenário e vai entrar na igreja exatamente igual a noiva do casamento anterior. Gosto das gordinhas e gosto das provocadoras de padre.

Me divirto com aquelas gordinhas sem noção, que na tentativa de disfarçar a silhueta avantajada optam por tecidos tipo cortina ou tapete persa. Aquela profusão de cores vivas e desenhos enormes. Ficam parecendo uma máquina de lavar com capinha plástica. Basta entrar na igreja que automaticamente atraem todos os olhares. É cientificamente provado que objetos coloridos e em movimentos chamam a atenção de nossa mente, mais que os de cores neutras e os parados.

Eu acho bem divertido olhar pra elas, contar quantas cores conseguiram colocar naquele pedaço de pano. É quase como aquelas propagandas de celular: “mais de 4.545 cores”. Gosto de ver a mistura que fazem com flores e outros desenhos. Já vi coqueiros, pássaros, estrelas e uma vez, eu achei o Wally: http://www.ondeestaowally.blogger.com.br/

Também gosto daquelas mocinhas que fazem o estilo “olha-meus-peitos-padre”. As que vão com um decotão abusado e sentam nas primeiras filas. Geralmente usam vermelho ou alguma peça de vestuário que imite onça, tigre, vaca ou outro animal quadrúpede. E pode apostar, no momento mais silencioso da cerimônia ela vai dar um jeito de chamar atenção: ou a bolsa irá cair ruidosamente no chão ou o celular irá tocar. Essas também provocam reação imediata. Repare na próxima vez que for a um casamento, assim que este tipo de convidada entra na igreja, várias senhoritas inclinam a cabeça para fazer comentários ao pé do ouvido de suas amigas.

AH! Me fez lembrar uma coisa. Tenho um recado para você, mãe de um neném lindo de 1 aninho, que você pretende levar a igreja com um terninho alugado, só pra arrancar “óóóóós” de suas amigas. Seu filho vai chorar na igreja, gritar, se jogar no chão e sujar o vestido da “Tia” compadecia que irá colocá-lo no colo, na tentativa de calar seu filhote. A peste vai atrapalhar a cerimônia. Isso é inevitável. A noiva irá sim te dar um super olhar de ódio e reprovação e o padre irá olhar a criança com aquela cara de “aposto que não é cristão-batizado”. Portanto mamãe deixe seu filhote com a vizinha, sogra, ex-namorada do seu marido ou esqueça-o na brinquedoteca do Supermercado Extra (que é 24 horas). Fica aí uma ótima dica heim. Não precisa agradecer.

Chego, então, a uma brilhante solução: uma vez que nós homens não prestamos atenção na música, na decoração (pô... flor muda de nome pra decoração quando entra na igreja?), nos cabelos, na maquiagem, nos sapatos, nem nos vestidos de cores criativas (só nos decotes, isso assim agente olha mesmo) e ainda vamos dar vexame bebendo todo o whisky falso da recepção; e que vocês mulheres se produzem unicamente para causar inveja nas suas amigas; sugiro, portanto, que todo e qualquer convite de casamento seja enviado apenas para mulheres. Livrando do sofrimento milhares (quiçá milhões) de homens que vão “obrigados” a cerimônias de game-over.

Com excessão dos futuros maridos, é claro, e dos padres, que não tem mais o que fazer mesmo e que não bebem cervejinha com os amigos no sábado à tarde.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Tempo e pão de queijo



O tempo é uma entidade estranha. Meio genioso, meio arredio. Quanto mais se precisa, menos dele se tem. E quando não se tem necessidade alguma dele, ele sobra, se esbanja e pode até transformar-se em tédio, se tiver tempo para isso.

Esses dias eu estava atendendo em Samabaia Sul, fui para a parada de ônibus as 19:00. (Queria ter ido antes, bem verdade, mas a família do paciente, muito gentil, assou pães de queijo e me serviu café na única xícara da casa.) Bom, fiquei até as 20:30 esperando por um ônibus que resolveu não passar naquele dia. Cansado de esperar no escuro, numa parada de ônibus caindo aos pedaços, peguei um ônibus qualquer, só pra sair de lá e, depois, peguei mais um para chegar em casa, as 21:30.

Achei uma hora e meia um tempo muito longo de espera. Quem tem tanto tempo sobrando pra ficar na espera?

Era um lugar bem pobre, talvez umas das regiões mais pobres de Brasilia. Resolvi desabafar com o único companheiro que ainda permanecia na parada. Ele riu discretamente e me contou que já havia ficado mais de 3 horas ali esperando a condução pra voltar pra casa.

Tempo é dinheiro mesmo. Quem tem dinheiro não suporta perder tempo. Não aguenta esperar alguns minutos, quanto fará horas. Não consigo imaginar passageiros aguardando em silêncio por um avião atrasado em 3 horas. Sabe-se lá quantos "você sabe com quem está falando" seriam usados como ameças em vão, no guichê da compania aérea. "Isso é um absurdo" se torna palavra de ordem, saindo de quase todas as bocas. Os mais exaltados e os mais bem vestidos seriam estrategicamente deslocados para uma sala VIP e seriam silenciados com amendoins e black labels.

Já reparou que é só um vôo atrasar que quase todos os passageiros começam a perder negócios milionários ou reuniões mais importantes que jogo de final de copa do mundo?

Bom, eu não ia a reunião alguma, nem ia fechar negócio milionário. Eu apenas queria chegar em casa e tomar um banho depois de um dia de trabalho. Eu e aquelas pessoas que também aguardaram pelo ônibus. Não fomos transferidos para sala VIP, não ganhamos amendoins e nem pedido de desculpas. Apenas ficamos lá, em pé, numa parada de ônibus sem luz e sem ônibus.

Estranho esse pensamento coletivo que os que não tem dinheiro tem tempo a perder. Seja esperando ônibus, esperando atendimento no hospital publico, esperando vaga em colégios...

Se o ditado diz que tempo é dinheiro e a matemática diz que a ordem dos fatores não altera o produto, logo, dinheiro é tempo. Portanto, quem não tem dinheiro de sobra também não tem tempo de sobra. Não deveria esperar horas por ônibus, médicos, etc.

Igorando o ditado e a matemática, Tempo é tempo e pronto. Ninguem tem sobrando pra disperdiçar. Seja rico ou pobre.

Cientista algum sabe como pará-lo ou, sequer, reduzir sua velocidade. O tempo passa depressa para todos. Quando menos se percebe, no momento em que se está distraído com tantas ocupações ele passa. Não avisa, não buzina e nem dá tchauzinho. Só passa e pronto. E nos deixa velhinhos, saudosos, chorosos... pensando no que poderia ter sido.

Mas, já dizia Aldir Blanc, na canção Resposta ao tempo, "Mas fico sem jeito calado, ele ri. Ele zomba
do quanto eu chorei, porque sabe passar e eu não sei." http://letras.terra.com.br/nana-caymmi/47557/
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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pão-com-ovo

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Há quem goste de churrasquinho de gato. Há quem prefira cachorro-quente. E ainda há os que preferem Mc Donalds. Bom, quanto a mim, eu prefiro pão-com-ovo.

Sabe quando bate aquela fomezinha tipo espanta-tédio? Aquela que não está te matando, aliás você nem a tinha percebido antes, mas só reparou porque ficou sem nada pra fazer ou precisa esperar que outra pessoa tenha tempo pra você? Pois é. A minha sempre é de pão-com-ovo.

Bom, acho que eu já disse antes que não tenho carro e trabalho de ônibus. Mas eu ainda não havia dito que eu sou fisioterapeuta e atendo, em domicílio, pacientes de Brasília e “extorno” (entorno é só quando é pertinho, tipo Guará ou Taguatinga).

Quando por algum infortúnio, pego um baú na rodoviária, sacolejo uns quarenta longos minutos, desembarco numa cidade satélite e o paciente (por esquecimento ou por outro motivo) não está em casa para me receber, a primeira idéia que lampeja na mente é pão-com-ovo.

Ela chega de mansinho, primeiro com a imagem do pão francês novinho, daqueles que fazem créc-créc, quentinho, fumacinha saindo, semi-aberto no prato, com manteiga passada, começando a derreter e um ovinho frito dentro, com uma parte da clara saindo pela abertura do pão. O ovo dos meus pensamentos sempre tem a gema mole, a bordinha crocante e a pitada correta de sal. Não é qualquer ovinho frito não senhor. É “o” ovo.

Logo em seguida, lampeja o cheirinho, hmmmmm, nada se compara ao aroma de um ovinho frito na manteiga. É um aroma muito especial. Certamente, há quem defenda que as rosas têm a melhor fragrância do mundo ou que a grama recém aparada emita os melhores odores. Mas, duvido que alguém, em sã consciência, pense em rosas ou grama cortada quando está com fome espanta-tédio.

Então, toda vez que sou obrigado a esperar fora de Brasília, longe de casa, eu como pão-com-ovo pra passar o tempo. Já degustei essa iguaria em Brazlândia, Sobradinho, Taguatinga, Ceilândia, Gama, Cruzeiro e Núcleo Bandeirante. Algumas padarias tem um pão-com-ovo tão bom, que chego a desejar que o paciente não possa me receber na hora marcada ou que não seja uma avaliação muito demorada, pra eu poder comer meu pão-com-ovo na saída.

Já comi dezenas de pão-com-ovo nesse emprego. Já experimentei-o em diversas padarias. Tenho um mapa mental com os melhores points para apreciá-los, e isso em várias cidades. Sou praticamente um GPS para pão-com-ovo.

Existem variações desse quitute mágico. Algumas são ótimas, outras nem tanto. A começar pelo pão, existem três variáveis: o de forma, o de hambúrguer e o francês. Bom, eu sou um cara clássico, ligeiramente antiquado até. Pão-com-ovo de gema mole com borda crocante sempre deve ser servido em pão francês quentinho e estalando, e com boa manteiga. Isso deveria estar escrito em livros de etiqueta, tipo aqueles da Danuza Leão, que ensinavam que não se assobia a mesa ou que o alface não pode ser cortado com faca, mas dobrado duas vezes, fazendo um pequeno embrulho. Dessa maneira, os balconistas não precisariam me perguntar – que tipo de pão Doutor? , o que evitaria a minha réplica – qual tipo que tem?, por que, no fim das contas, eu só como no pão francês mesmo.

Outra opção é: o que passar no pão? Bom, logicamente a resposta é manteiga da boa, para que ela derreta quando se coloca o ovo frito de gema mole com borda crocante em cima. Mas, ainda existem balconistas que perdem tempo me perguntando seu eu quero margarina ou maionese.
Oras... Margarina? Maionese? A pessoa que está preparando esse clássico da padaria, jamais deveria ter essa dúvida. Pão com maionese é coisa de Giraffas. Pão com margarina só pode ser coisa dos americanos, que fizeram um comercial com alguma família albina e sorridente qualquer, super feliz às seis horas da manhã, junto com seu labrador de rabo abanante, chamado Spike, e "buzuntam" um pão com aquela porcaria de pasta de óleo de milho e ficam dando pedaços um na boca do outro.
Margarina? Não gosto nem do nome.

E sim, margarina é feita de óleo de milho, misturada com um monte de aditivos químicos (é um dos alimentos com mais química que o mercado vende), para que fique sólida em temperatura ambiente. Mas, não é invenção dos americanos, foi o pão-duro do Napoleão, que em 1860, pediu para que desenvolvessem um produto mais barato que a manteiga, para ser servido à classe “raléica” e aos soldados. Tá duvidando? http://pt.wikipedia.org/wiki/Margarina

Mas, voltando ao tema (que deve ser sempre servido com manteiga) outra escolha a fazer é gema mole ou dura? Bom, embora eu acredite que já tenha deixado clara (embora gema) minha escolha, cabe acrescentar que: Gema dura é pra ovo cozido. Gema “mais ou menos” é para ovo mexido. Ovo frito é com gema mole.

E, finalizando, vem um adicional que gosto muito: - queijo em cima senhor? Sempre aceito. Não me importa se é mussarela, prato ou minas. Um queijinho derretido em cima do ovo frito de gema mole e borda crocante, sempre cai muito bem.

Embora eu tenha citado “livro de etiqueta”, não se deve ter etiqueta nenhuma ao saborear essa obra-prima. Tento dar a bocada o maior possível, para encher mesmo a boca e ocupar todas as minhas papilas gustativas com essa delícia. Contudo, sempre verifico aonde está a gema, pois esta deve entrar inteira e, preferencialmente, intacta na boca do apreciador (um pão-com-ovista, digamos) e, daí então ser delicadamente esmagada, espalhando assim seu sumo amarelo e saboroso. Depois de me regalar, lambo as pontinhas do dedo, como todo bom pão-com-ovista faz, para não desperdiçar nenhum fragmento de sabor.

E não tem erro. Pão-com-ovo é pão-com-ovo em qualquer padaria, independente da cidade. Todo mundo sabe fazer. Fica pronto rapidinho e o melhor, custa quinze vezes menos que um sanduíche de lanchonete e é muito mais gostoso.

Bom, então é isso. Se for beber não dirija e se for comer pão-com-ovo, me chame.
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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Uniforme para a vida

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Não importa o dia, não importa a hora, quando o ônibus (também não importa a linha) passa na frente do shoping Pátio Brasil sempre entram uma ou duas mulheres, carregadas de sacolas com roupas dentro. Com aquele sorrisinho no canto da boca, mal podendo disfarçar a alegria de terem adquirido novas peças para seus guarda-roupas.

Eu devo ter algum trauma de infância ou em alguma vida passada fui escravo em fábrica têxtil indiana ou morri sufocado quando uma pilha de roupas caiu em mim. Só isso explicaria a aversão que tenho a roupas.

Não gosto de escolher roupa em loja, não gosto de dobrá-las em casa, nem de colocá-las na mala para viajar e não gosto nem de dar opinião quando me perguntam: - qual blusa combina mais?

Não que eu faça o tipo naturista e queira sair pelado por aí, tomando sol nas partes que nunca pegaram sol.

Ando muito de ônibus e ainda bem mesmo que o mundo não é naturista. Acho porca essa mania. Imagina, você entra no ônibus, vai sentar e o banco está todo ensebado de bunda. Lustroso do suor do glúteo alheio. Isso na melhor das hipóteses! E se o ônibus estiver cheio? Todo mundo em pé, se sacudindo e se encostando? Bom, para as mentes pervertidas, isso pode até parece uma idéia simpática, mas aposto que essas mentes não tem andado de ônibus ultimamente. Meus colegas passageiros estão longe de se assemelharem com o elenco da Malhação. O brasileiro é um povo bonito, mas as pessoas são feias.

Eu faço mais o tipo personagem de história em quadrinhos do Maurício de Souza. Faço um gênero mais Cebolinha, digamos. A mesma roupinha a vida toda. Hmm, falar nisso, o Cebolinha cresceu. Não só ele, a Tchurma da Mônica toda claro. São adolescentes sarados, com jeito de revistinha japonesa tipo mangá. E eles se pegam, eles ficam...

Cara, fiquei chocado com esse fato. Personagens de história em quadrinhos não deveriam mudar de aparência com o passar dos tempos. Imagina se a tendência se propaga. Imagina o Batman no asilo, a Mulher-maravilha sofrendo de diabetes e hipertensão e o pica-pau empalhado num museu de historia natural qualquer.

Até gosto da roupa do Cebolinha mesmo, short preto e blusa verde. Ah que privilégio acordar de manhã, abrir o armário e ter dezenas de conjuntinhos exatamente iguais. Nada de perder tempo escolhendo a roupa. Nada de cair em armadilhas da moda, eu apenas sei que não se mistura bermuda listrada com camisa estampada, no resto eu erro com certeza.

Seria como ter um uniforme para a vida. Você vem vindo e de longe os amigos já te reconhecem pela roupa. Tia nenhuma erraria mais nos presentes de aniversário. Ou me dariam um short preto ou uma blusa verde.

Nada mais de chegar numa festa e ter outra pessoa com a mesma blusa da promoção da C&A igualzinha a minha, não que isso seja um problema. De fato, acho que nunca aconteceu. Mas se acontecesse, eu acho que daria risada e iria pensar: mais um quebrado comprando na promoção. Voltando a festa, bastava a pessoa saber quem ia e pronto. - Ah, o Gabriel vai? Então não irei de blusa verde, porque é a cor oficial dele.

Já sou um pouco assim mesmo. Não que eu use exatamente a mesma blusa com a mesma calça, mas faço as mesmas combinações de roupa por muitos e muitos anos. Tipo a bermuda jeans sempre com a blusa verde, a calça bege com a camisa vermelha e por aí vai...

Esses dias achei várias blusas “novas” na gaveta, embaixo das camisetas de sempre. Eram mais de dez blusas que eu não tinha idéia que moravam no meu armário. Elas me devem ter sido presenteadas nos aniversários e natais dos últimos quatro-cinco anos. Mas como tenho costume de usar as mesmas roupas, pra não ter que ficar escolhendo, e nem ter que ficar pegando muito em roupa nas gavetas, negligenciei as coitadas das blusas “novas”.

Mas por favor, não parem de me dar blusas de aniversário e Natal. Adoro ganhar blusa. Apesar de não gostar de roupa. Seu presente me poupa do tormento de ir para o shopping, aguentar uma vendedora pseudo-simpática que afirma que toda blusa ficou "- ótima gato" só pra se ver livre de mim e poder empurrar outra peça feia para outro cara que não sabe escolher blusa. Além disso, me poupa de ter que pegar ônibus com sacolas na mão e enfrentar os olhares inquisitivos dos outros passageiros, não entendendo a falta de um sorriso no meu canto-de-boca.
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sábado, 18 de julho de 2009

Ditados populares

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Estava eu sentado no banco do ônibus, numa terça-feira à tarde e escutei uma senhora falar para outra, cheia de propriedade, como se estivesse dando um conselho imperdível, como se tivesse chegado à conclusão naquele exato momento que - “a mentira tem pernas curtas” minha filha.

Lembrei que tenho uma listinha com os cem ditados populares mais legais. Desde pequeno sempre os achei muito interessantes. Pequenas frasezinhas feitas para implicar com os outros, para ensinar lições para as crianças ou apenas para parecer culto.

Boa parte deles aprendi na infância, de tanto que minha vó repetia, como o “ é de pequenino que se torce o pepino” ou o “muito riso, pouco ciso”, sempre usado quando eu e meus irmãos estávamos às gargalhadas no quarto, fazendo alguma besteira, e algum adulto perguntava: - O que é que vocês estão aprontando dessa vez? E agente respondia, entre risos, - Nada, nada....

Minha memória é boa para eles. Sei muitos mesmo. Às vezes escapam sem querer da minha boca, logo depois que alguem termina de contar uma situação. E me sinto um brega, um locutor de rádio AM dando conselhos para ouvintes de coração partido: - Quem com ferro fere, com ferro será ferido Roselleny. Não te preocupes, Lindomar será castigado pela vida.

Às vezes os uso propositalmente e o sujeito fica me olhando com uma cara de admiração, provavelmente pensando como escolho tão bem as palavras. “O pior cego é aquele que não quer ver” sempre causa um efeito muito bom. A pessoa fica pensando, quem é o cego? quem não quer ver? Sou eu? É minha ex-namorada? O que ela não quer ver? O que eu não vi?....

E quando eu penso que esse ditado é baseado numa história real, ele assume uma importância muito maior. Um francês que em 1600 e qualquer coisa recebeu um transplante de córneas, não gostou do que viu e pediu para que lhe extraíssem as córneas e ficar cego novamente. Como o médico não concordou, a disputa foi parar nos tribunais. http://www.reporternet.jor.br/10-ditados-populares-e-seus-significados/

Esses provérbio também encurtam uma conversa que eu não queria ter mesmo e, ainda, saio como atencioso e compreensivo. Por exemplo, noutro dia um amigo veio me contar uma história, super demorada, de uma jaqueta que ganhou de aniversário da mãe e que não era o modelo que ele gostava, porque ele não gosta da gola não sei-o-quê, da cor não sei que lá e, que a mãe sabia disso mas deu só pra implicar porque faz pouco caso dele e blá blá blá.

Primeiro, eu não acho que alguem saia de casa, vá a um shopping lotado no fim de semana, gaste um tempão escolhendo uma roupa para outra pessoa, fique horas esperando na fila do caixa e pague um dinheirão numa jaqueta, só por implicância. Não acredito que depois desse processo todo a mãe dele tenha pensado: Agora ele vai ver só! Comprei bem o modelo que ele não gosta, só de sacanagem!

Bom, não querendo ser sincero demais e dizer pro amigo: - olha cara, sua história além de chata, não me interessa e você é um ingrato, ou de ter que explicar toda o lance do shopping, correndo o risco do cara querer argumentar ainda mais e prolongar a história chata, eu, sabiamente, respondi: “a cavalo dado não se olham os dentes”.

Pronto, bastou. Ele se sentiu escutado e respondido e, ainda ficou refletindo sobre o dito.

Isso é outro ponto positivo: ninguém nunca retruca um ditado-popular. Já reparou? Quando utilizado no tom correto, a pessoa te dá um sorriso meio sem jeito, pra mostrar que entendeu a “mensagem secreta” e fica calada ou troca de assunto ou vai embora chatear outra pessoa.

Tem uns ditados que eu acho meio bestas, como: “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. Em que contexto será que a pessoa inventou essa pérola? Será que estava com um bem-te-vi na mão, viu outros dois voando e se sentiu aliviada?

Pra mim, nesses tempos ecologicamente corretos, parece mais interessantes dois voando do que um na mão. Os dois podem se acasalar, formar uma família e tirar a espécie da lista de extinção, aparecerem no Globo Repórter e serem felizes para sempre.

Já o “um na mão”, você vai precisar comprar uma gaiola, comprar comidinha de pássaro, vitamina de pássaro, brinquedinho de pássaro, além de outras coisas “indispensáveis” que o vendedor do pet shop vai te empurrar ao perceber que você não entende lhufas de pássaros. No dia seguinte seu bem-te-vi vai ficar deprimido no cantinho da gaiola nova e cara, e que o ingrato não deu o menor valor, e aí você vai levá-lo ao veterinário, que vai cobrar a consulta como se tivesse atendido um touro nelore, vai receitar uns remédios de passarinho e, ainda assim, o seu Pitangus sulphuratus vai morrer.

Por essas e outras que não utilizo esse ditado popular.

Bom, minha parada é a próxima. - Dá licença minha senhora?
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quinta-feira, 16 de julho de 2009

Elefantes


Não lembro bem aonde estava, mas era em algum lugar no trecho Brasília-Taguatinga. Estava eu a saculejar no banco do ônibus e ao olhar pela janela, vi um cavalo sujo puxando uma carroça cheia de papelão e a atrapalhar o trânsito da pista contrária.

Pensei: poderia ser pior, poderia ser um elefante.

Gosto tanto de elefantes. Eles são tão simpáticos, meio míopes, meio sorridentes, sempre mastigando um capinzinho, se sacudindo suavemente, de um lado pro outro, como se levassem a vida a dançar e ainda tem cheiro de beringela. Bom, pra ser sincero, nunca cheirei um elefante, nem cheguei muito perto de um paquiderme. Mas tenho a impressão que eles tem cheiro de beringela.

Muita gente também deve gostar muito de elefantes, como o Sr. Walt Disney que criou o Dumbo. Aquele elefantinho fofo e chorão de um circo, com orelhas enormes e que aprende a voar para procurar sua mãe ou algo assim. Nunca gostei do Dumbo, sempre o achei frágil demais para um elefante. Mas gosto daqueles elefantes psicódelicos e cor-de-rosa com quem o Dumbo tem uma viagem de ácido, em determinado momento da película. http://www.youtube.com/watch?v=944cPciN-kw

José Saramago, prêmio Nobel de literatura, tambem deve gostar de elefantes. Ele escreveu "A viagem do elefante" (em 2008) que conta a saga do elefante Salomão ao viajar de Portugal para Aústria. Passa 200 páginas, só falando disso. Sem inteção de desdenhar deste excelente livro. Ele escreve muito bem, claro, Saramago é Saramago. Que não é um elefante, mas tambem gosto dele.

Além deste, existem vários livros infantis com elefantes em "papéis principais". Não lembro de nenhum nesse momento, mas devem ter vários sim. Inclusive, lembro de ter visto, na livraria, um livro em formato rechonchudo de elefante.

Ah, e os elefantes são tão importantes que existe um deus indiano com cabeça de elefante. Ganesh é o nome dele. E eu tenho umas duas esculturinhas de Ganesh. Já tive camiseta comprada na feira hippie, mais pela simpatia ao elefante do que tudo. Não sei ao certo qual o departamento que essa divindade-hindú comanda.

Olha como eles, os elefantes, são importantes! Nunca vi ou ouvi falar num deus com cabeça de de golfinho, por exemplo, que é um mamífero bem carismático. Ou de um deus com cabeça de girafa, que é um animal também bonito e conterrâneo africano dos elefantes.

Cara, só lembrei de filme/desenho de elefante com o Dumbo. Que não é um bom exemplo de caráter e força paquidérmicas. Lembrei, também, daquele Era do Gelo, em que tem um mamute, Manfred, que é todo corajoso, fortão e salva aquele cabeçudo nenêm dos tigres famintos.

Bom, pra começar, colocaram a voz do Diogo Vilella na dublagem do Mamute. Pô, cá entre nós, Diego Vilella não remete ninguém à força e à coragem. Sem contar que é um camarada muito baixinho e mirradinho para dublar um mamute altão e fortão.

E ainda, mamutes não contam como elefantes. Eles são cheios de pelos e fedem. Tudo bem, também nunca cheguei tão perto de um mamute para saber do cheiro. Nem ninguém, creio eu. Diz a ciência que eles foram extintos antes que o homo se tornasse erectus. Mas eles deviam feder muito sim.

Imagina só, por exemplo, tenho 3 cachorros, que também não se comparam a elefantes, embora sejam grandes. E todos eles, meio à contra-gosto, tomam banho uma vez por semana. Usam shampoo desodorizador de pelos, carrapaticida, anti-pulgas e, o principal, com fragrância de lavanda. Depois disso, secam ao sol e ganham escovadelas nos pelos, para ficar mais bonitos, parecendo cachorro de propaganda de ração. E, pasmem, vira e mexe eles ainda ficam com um cheiro de cachorro. Imagine um mamute. Quem dava banho? Quem escovava? Quem desgrudava os pedacinhos de cocô que grudava em suas ancas peludas? erca..

Portanto, o filme Era do gelo, não conta mesmo como exemplo de personagem elefântico.
Tomara que algum cineasta europeu faça um filme de elefante. Um que faça jus à todo seu esplendor e caráter, mas que não seja muito escuro ou deprimente.

Bom, a próxima parada é a minha. Fico por aqui.
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