segunda-feira, 21 de junho de 2010

Tosse-de-teatro.

Voltei a ir ao teatro. O CCBB está com um evento muito bom: MIT - mostra internacional de Teatro, onde trupes internacionais apresentam seus espetaculos premiados e a preços módicos, R$ 7,50.

Os espetáculos fogem à linha comum, sempre saio da sala me perguntando se gostei ou não do que vi, pois tudo é tão diferente, ilógico e imprevisível que meu senso crítico teatral fica sempre desnorteado ao final.

Nos dias seguintes, fragmentos das peças surgem em minha mente e eu reanalizo, repenso, reinterpreto... algumas vezes eu até "redirijo" cenas e imagino que seria melhor de uma determinada maneira ou altero cenários, tilhas sonoras, etc.

Pode parecer presunção né? Eu, um cara que nem carro tem, redirigir peças consagradas internacionalmente. Mas pô, todo brasileiro não acha que é técnico e vive escalando jogadores de futebol melhores, táticas infalíveis e xingando de burro os técnicos? Então! Que mal tem eu repensar os espetáculos? (Faço isso com filmes tambem, confesso.)

Bom, tem um fato curioso que me faz rir muito sozinho, antes do inicio das peças. Não importa se a trupe é italiana, francesa, portuguesa... Não importa se é em teatro grande ou pequeno... Basta apagar a luz, após a terceira campainha e fazer-se o silêncio, que começa uma sinfonia de tossidas na platéia.

Já reparou? Então repare na próxima.

É uma espécie de reação em cadeia, uma avalanche, é só um começar e muitas pessoas tossirão. E não é aquela tosse sincera de cachorro não. É uma tossidinha boba, seca e envergonhada. Várias delas!

Nesse último espetáculo, contei quartoze tossidinhas no escuro, e aí caí na gargalhada sozinho e tive, então, que compartilhar minha teoria da tosse-de-teatro com o amigo que estava do meu lado.

Talvez tenha uma explicação ou várias.

Eu, por exemplo, tenho duas sensações muito fortes antes do início das apresentações. A primeira é medo de ser chamado ou arrastado ao palco.

Acho ridícula essa idéia de fazer a platéia ser parte do espetáculo. Estou pagando para assistir pô, não pra participar de cena nenhuma. Se eu quisse estar no palco eu seria ator e não fisioterapeuta. Maldito seja o primeiro diretor que teve essa brilhante idéia de arrancar alguém da penumbra de sua confortável cadeira numerada e arrastá-lo para cima do palco iluminado para fazer papel de idiota. Ainda tem essa! O pobre espectador sempre é ridicularizado no palco. Nunca dá um beijo técnico na atriz mais bonita ou resolve o misterioso crime, sempre passa vexame.

A outra sensação que tenho é vergonha alheia. Sei que os atores são profissionais, desprovidos desse sentimento bobo. Mas eu tenho vergonha por eles. Principalmente quando a peça é modernosa e começa com alguem dançando alucinadamente no palco sem que música alguma esteja tocando ou quando a pessoa grita numa língua inventada, que nem uma doida, com uma planta de plástico. Sempre temo que a primeira cena seja non-sense, me dá dó do artista.

Bom, dados os dois motivos que incomodam antes do inicio, quando a luz se apaga, ainda assim eu não tusso. No máximo suo na palma da mão ou balanço rapidamente os pés, mas eu simplesmente não tusso e não sei por quê tantas pessoas tossem.

Você pode até estar argumentando que não tem como segurar tosse ou espirro. Mas eu sei que são tosses de mentirinha. Porque quando entra o primeiro ator no palco a tosse coletiva cessa de imediato. Ninguém mais irá dar uma tossida sequer, até o fim da peça. A não ser que, num intervalo entre as cenas, apaguem-se todas as luzes e o palco fique silencioso novamente.

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