segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pão-com-ovo

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Há quem goste de churrasquinho de gato. Há quem prefira cachorro-quente. E ainda há os que preferem Mc Donalds. Bom, quanto a mim, eu prefiro pão-com-ovo.

Sabe quando bate aquela fomezinha tipo espanta-tédio? Aquela que não está te matando, aliás você nem a tinha percebido antes, mas só reparou porque ficou sem nada pra fazer ou precisa esperar que outra pessoa tenha tempo pra você? Pois é. A minha sempre é de pão-com-ovo.

Bom, acho que eu já disse antes que não tenho carro e trabalho de ônibus. Mas eu ainda não havia dito que eu sou fisioterapeuta e atendo, em domicílio, pacientes de Brasília e “extorno” (entorno é só quando é pertinho, tipo Guará ou Taguatinga).

Quando por algum infortúnio, pego um baú na rodoviária, sacolejo uns quarenta longos minutos, desembarco numa cidade satélite e o paciente (por esquecimento ou por outro motivo) não está em casa para me receber, a primeira idéia que lampeja na mente é pão-com-ovo.

Ela chega de mansinho, primeiro com a imagem do pão francês novinho, daqueles que fazem créc-créc, quentinho, fumacinha saindo, semi-aberto no prato, com manteiga passada, começando a derreter e um ovinho frito dentro, com uma parte da clara saindo pela abertura do pão. O ovo dos meus pensamentos sempre tem a gema mole, a bordinha crocante e a pitada correta de sal. Não é qualquer ovinho frito não senhor. É “o” ovo.

Logo em seguida, lampeja o cheirinho, hmmmmm, nada se compara ao aroma de um ovinho frito na manteiga. É um aroma muito especial. Certamente, há quem defenda que as rosas têm a melhor fragrância do mundo ou que a grama recém aparada emita os melhores odores. Mas, duvido que alguém, em sã consciência, pense em rosas ou grama cortada quando está com fome espanta-tédio.

Então, toda vez que sou obrigado a esperar fora de Brasília, longe de casa, eu como pão-com-ovo pra passar o tempo. Já degustei essa iguaria em Brazlândia, Sobradinho, Taguatinga, Ceilândia, Gama, Cruzeiro e Núcleo Bandeirante. Algumas padarias tem um pão-com-ovo tão bom, que chego a desejar que o paciente não possa me receber na hora marcada ou que não seja uma avaliação muito demorada, pra eu poder comer meu pão-com-ovo na saída.

Já comi dezenas de pão-com-ovo nesse emprego. Já experimentei-o em diversas padarias. Tenho um mapa mental com os melhores points para apreciá-los, e isso em várias cidades. Sou praticamente um GPS para pão-com-ovo.

Existem variações desse quitute mágico. Algumas são ótimas, outras nem tanto. A começar pelo pão, existem três variáveis: o de forma, o de hambúrguer e o francês. Bom, eu sou um cara clássico, ligeiramente antiquado até. Pão-com-ovo de gema mole com borda crocante sempre deve ser servido em pão francês quentinho e estalando, e com boa manteiga. Isso deveria estar escrito em livros de etiqueta, tipo aqueles da Danuza Leão, que ensinavam que não se assobia a mesa ou que o alface não pode ser cortado com faca, mas dobrado duas vezes, fazendo um pequeno embrulho. Dessa maneira, os balconistas não precisariam me perguntar – que tipo de pão Doutor? , o que evitaria a minha réplica – qual tipo que tem?, por que, no fim das contas, eu só como no pão francês mesmo.

Outra opção é: o que passar no pão? Bom, logicamente a resposta é manteiga da boa, para que ela derreta quando se coloca o ovo frito de gema mole com borda crocante em cima. Mas, ainda existem balconistas que perdem tempo me perguntando seu eu quero margarina ou maionese.
Oras... Margarina? Maionese? A pessoa que está preparando esse clássico da padaria, jamais deveria ter essa dúvida. Pão com maionese é coisa de Giraffas. Pão com margarina só pode ser coisa dos americanos, que fizeram um comercial com alguma família albina e sorridente qualquer, super feliz às seis horas da manhã, junto com seu labrador de rabo abanante, chamado Spike, e "buzuntam" um pão com aquela porcaria de pasta de óleo de milho e ficam dando pedaços um na boca do outro.
Margarina? Não gosto nem do nome.

E sim, margarina é feita de óleo de milho, misturada com um monte de aditivos químicos (é um dos alimentos com mais química que o mercado vende), para que fique sólida em temperatura ambiente. Mas, não é invenção dos americanos, foi o pão-duro do Napoleão, que em 1860, pediu para que desenvolvessem um produto mais barato que a manteiga, para ser servido à classe “raléica” e aos soldados. Tá duvidando? http://pt.wikipedia.org/wiki/Margarina

Mas, voltando ao tema (que deve ser sempre servido com manteiga) outra escolha a fazer é gema mole ou dura? Bom, embora eu acredite que já tenha deixado clara (embora gema) minha escolha, cabe acrescentar que: Gema dura é pra ovo cozido. Gema “mais ou menos” é para ovo mexido. Ovo frito é com gema mole.

E, finalizando, vem um adicional que gosto muito: - queijo em cima senhor? Sempre aceito. Não me importa se é mussarela, prato ou minas. Um queijinho derretido em cima do ovo frito de gema mole e borda crocante, sempre cai muito bem.

Embora eu tenha citado “livro de etiqueta”, não se deve ter etiqueta nenhuma ao saborear essa obra-prima. Tento dar a bocada o maior possível, para encher mesmo a boca e ocupar todas as minhas papilas gustativas com essa delícia. Contudo, sempre verifico aonde está a gema, pois esta deve entrar inteira e, preferencialmente, intacta na boca do apreciador (um pão-com-ovista, digamos) e, daí então ser delicadamente esmagada, espalhando assim seu sumo amarelo e saboroso. Depois de me regalar, lambo as pontinhas do dedo, como todo bom pão-com-ovista faz, para não desperdiçar nenhum fragmento de sabor.

E não tem erro. Pão-com-ovo é pão-com-ovo em qualquer padaria, independente da cidade. Todo mundo sabe fazer. Fica pronto rapidinho e o melhor, custa quinze vezes menos que um sanduíche de lanchonete e é muito mais gostoso.

Bom, então é isso. Se for beber não dirija e se for comer pão-com-ovo, me chame.
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