quinta-feira, 23 de julho de 2009

Uniforme para a vida

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Não importa o dia, não importa a hora, quando o ônibus (também não importa a linha) passa na frente do shoping Pátio Brasil sempre entram uma ou duas mulheres, carregadas de sacolas com roupas dentro. Com aquele sorrisinho no canto da boca, mal podendo disfarçar a alegria de terem adquirido novas peças para seus guarda-roupas.

Eu devo ter algum trauma de infância ou em alguma vida passada fui escravo em fábrica têxtil indiana ou morri sufocado quando uma pilha de roupas caiu em mim. Só isso explicaria a aversão que tenho a roupas.

Não gosto de escolher roupa em loja, não gosto de dobrá-las em casa, nem de colocá-las na mala para viajar e não gosto nem de dar opinião quando me perguntam: - qual blusa combina mais?

Não que eu faça o tipo naturista e queira sair pelado por aí, tomando sol nas partes que nunca pegaram sol.

Ando muito de ônibus e ainda bem mesmo que o mundo não é naturista. Acho porca essa mania. Imagina, você entra no ônibus, vai sentar e o banco está todo ensebado de bunda. Lustroso do suor do glúteo alheio. Isso na melhor das hipóteses! E se o ônibus estiver cheio? Todo mundo em pé, se sacudindo e se encostando? Bom, para as mentes pervertidas, isso pode até parece uma idéia simpática, mas aposto que essas mentes não tem andado de ônibus ultimamente. Meus colegas passageiros estão longe de se assemelharem com o elenco da Malhação. O brasileiro é um povo bonito, mas as pessoas são feias.

Eu faço mais o tipo personagem de história em quadrinhos do Maurício de Souza. Faço um gênero mais Cebolinha, digamos. A mesma roupinha a vida toda. Hmm, falar nisso, o Cebolinha cresceu. Não só ele, a Tchurma da Mônica toda claro. São adolescentes sarados, com jeito de revistinha japonesa tipo mangá. E eles se pegam, eles ficam...

Cara, fiquei chocado com esse fato. Personagens de história em quadrinhos não deveriam mudar de aparência com o passar dos tempos. Imagina se a tendência se propaga. Imagina o Batman no asilo, a Mulher-maravilha sofrendo de diabetes e hipertensão e o pica-pau empalhado num museu de historia natural qualquer.

Até gosto da roupa do Cebolinha mesmo, short preto e blusa verde. Ah que privilégio acordar de manhã, abrir o armário e ter dezenas de conjuntinhos exatamente iguais. Nada de perder tempo escolhendo a roupa. Nada de cair em armadilhas da moda, eu apenas sei que não se mistura bermuda listrada com camisa estampada, no resto eu erro com certeza.

Seria como ter um uniforme para a vida. Você vem vindo e de longe os amigos já te reconhecem pela roupa. Tia nenhuma erraria mais nos presentes de aniversário. Ou me dariam um short preto ou uma blusa verde.

Nada mais de chegar numa festa e ter outra pessoa com a mesma blusa da promoção da C&A igualzinha a minha, não que isso seja um problema. De fato, acho que nunca aconteceu. Mas se acontecesse, eu acho que daria risada e iria pensar: mais um quebrado comprando na promoção. Voltando a festa, bastava a pessoa saber quem ia e pronto. - Ah, o Gabriel vai? Então não irei de blusa verde, porque é a cor oficial dele.

Já sou um pouco assim mesmo. Não que eu use exatamente a mesma blusa com a mesma calça, mas faço as mesmas combinações de roupa por muitos e muitos anos. Tipo a bermuda jeans sempre com a blusa verde, a calça bege com a camisa vermelha e por aí vai...

Esses dias achei várias blusas “novas” na gaveta, embaixo das camisetas de sempre. Eram mais de dez blusas que eu não tinha idéia que moravam no meu armário. Elas me devem ter sido presenteadas nos aniversários e natais dos últimos quatro-cinco anos. Mas como tenho costume de usar as mesmas roupas, pra não ter que ficar escolhendo, e nem ter que ficar pegando muito em roupa nas gavetas, negligenciei as coitadas das blusas “novas”.

Mas por favor, não parem de me dar blusas de aniversário e Natal. Adoro ganhar blusa. Apesar de não gostar de roupa. Seu presente me poupa do tormento de ir para o shopping, aguentar uma vendedora pseudo-simpática que afirma que toda blusa ficou "- ótima gato" só pra se ver livre de mim e poder empurrar outra peça feia para outro cara que não sabe escolher blusa. Além disso, me poupa de ter que pegar ônibus com sacolas na mão e enfrentar os olhares inquisitivos dos outros passageiros, não entendendo a falta de um sorriso no meu canto-de-boca.
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sábado, 18 de julho de 2009

Ditados populares

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Estava eu sentado no banco do ônibus, numa terça-feira à tarde e escutei uma senhora falar para outra, cheia de propriedade, como se estivesse dando um conselho imperdível, como se tivesse chegado à conclusão naquele exato momento que - “a mentira tem pernas curtas” minha filha.

Lembrei que tenho uma listinha com os cem ditados populares mais legais. Desde pequeno sempre os achei muito interessantes. Pequenas frasezinhas feitas para implicar com os outros, para ensinar lições para as crianças ou apenas para parecer culto.

Boa parte deles aprendi na infância, de tanto que minha vó repetia, como o “ é de pequenino que se torce o pepino” ou o “muito riso, pouco ciso”, sempre usado quando eu e meus irmãos estávamos às gargalhadas no quarto, fazendo alguma besteira, e algum adulto perguntava: - O que é que vocês estão aprontando dessa vez? E agente respondia, entre risos, - Nada, nada....

Minha memória é boa para eles. Sei muitos mesmo. Às vezes escapam sem querer da minha boca, logo depois que alguem termina de contar uma situação. E me sinto um brega, um locutor de rádio AM dando conselhos para ouvintes de coração partido: - Quem com ferro fere, com ferro será ferido Roselleny. Não te preocupes, Lindomar será castigado pela vida.

Às vezes os uso propositalmente e o sujeito fica me olhando com uma cara de admiração, provavelmente pensando como escolho tão bem as palavras. “O pior cego é aquele que não quer ver” sempre causa um efeito muito bom. A pessoa fica pensando, quem é o cego? quem não quer ver? Sou eu? É minha ex-namorada? O que ela não quer ver? O que eu não vi?....

E quando eu penso que esse ditado é baseado numa história real, ele assume uma importância muito maior. Um francês que em 1600 e qualquer coisa recebeu um transplante de córneas, não gostou do que viu e pediu para que lhe extraíssem as córneas e ficar cego novamente. Como o médico não concordou, a disputa foi parar nos tribunais. http://www.reporternet.jor.br/10-ditados-populares-e-seus-significados/

Esses provérbio também encurtam uma conversa que eu não queria ter mesmo e, ainda, saio como atencioso e compreensivo. Por exemplo, noutro dia um amigo veio me contar uma história, super demorada, de uma jaqueta que ganhou de aniversário da mãe e que não era o modelo que ele gostava, porque ele não gosta da gola não sei-o-quê, da cor não sei que lá e, que a mãe sabia disso mas deu só pra implicar porque faz pouco caso dele e blá blá blá.

Primeiro, eu não acho que alguem saia de casa, vá a um shopping lotado no fim de semana, gaste um tempão escolhendo uma roupa para outra pessoa, fique horas esperando na fila do caixa e pague um dinheirão numa jaqueta, só por implicância. Não acredito que depois desse processo todo a mãe dele tenha pensado: Agora ele vai ver só! Comprei bem o modelo que ele não gosta, só de sacanagem!

Bom, não querendo ser sincero demais e dizer pro amigo: - olha cara, sua história além de chata, não me interessa e você é um ingrato, ou de ter que explicar toda o lance do shopping, correndo o risco do cara querer argumentar ainda mais e prolongar a história chata, eu, sabiamente, respondi: “a cavalo dado não se olham os dentes”.

Pronto, bastou. Ele se sentiu escutado e respondido e, ainda ficou refletindo sobre o dito.

Isso é outro ponto positivo: ninguém nunca retruca um ditado-popular. Já reparou? Quando utilizado no tom correto, a pessoa te dá um sorriso meio sem jeito, pra mostrar que entendeu a “mensagem secreta” e fica calada ou troca de assunto ou vai embora chatear outra pessoa.

Tem uns ditados que eu acho meio bestas, como: “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. Em que contexto será que a pessoa inventou essa pérola? Será que estava com um bem-te-vi na mão, viu outros dois voando e se sentiu aliviada?

Pra mim, nesses tempos ecologicamente corretos, parece mais interessantes dois voando do que um na mão. Os dois podem se acasalar, formar uma família e tirar a espécie da lista de extinção, aparecerem no Globo Repórter e serem felizes para sempre.

Já o “um na mão”, você vai precisar comprar uma gaiola, comprar comidinha de pássaro, vitamina de pássaro, brinquedinho de pássaro, além de outras coisas “indispensáveis” que o vendedor do pet shop vai te empurrar ao perceber que você não entende lhufas de pássaros. No dia seguinte seu bem-te-vi vai ficar deprimido no cantinho da gaiola nova e cara, e que o ingrato não deu o menor valor, e aí você vai levá-lo ao veterinário, que vai cobrar a consulta como se tivesse atendido um touro nelore, vai receitar uns remédios de passarinho e, ainda assim, o seu Pitangus sulphuratus vai morrer.

Por essas e outras que não utilizo esse ditado popular.

Bom, minha parada é a próxima. - Dá licença minha senhora?
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quinta-feira, 16 de julho de 2009

Elefantes


Não lembro bem aonde estava, mas era em algum lugar no trecho Brasília-Taguatinga. Estava eu a saculejar no banco do ônibus e ao olhar pela janela, vi um cavalo sujo puxando uma carroça cheia de papelão e a atrapalhar o trânsito da pista contrária.

Pensei: poderia ser pior, poderia ser um elefante.

Gosto tanto de elefantes. Eles são tão simpáticos, meio míopes, meio sorridentes, sempre mastigando um capinzinho, se sacudindo suavemente, de um lado pro outro, como se levassem a vida a dançar e ainda tem cheiro de beringela. Bom, pra ser sincero, nunca cheirei um elefante, nem cheguei muito perto de um paquiderme. Mas tenho a impressão que eles tem cheiro de beringela.

Muita gente também deve gostar muito de elefantes, como o Sr. Walt Disney que criou o Dumbo. Aquele elefantinho fofo e chorão de um circo, com orelhas enormes e que aprende a voar para procurar sua mãe ou algo assim. Nunca gostei do Dumbo, sempre o achei frágil demais para um elefante. Mas gosto daqueles elefantes psicódelicos e cor-de-rosa com quem o Dumbo tem uma viagem de ácido, em determinado momento da película. http://www.youtube.com/watch?v=944cPciN-kw

José Saramago, prêmio Nobel de literatura, tambem deve gostar de elefantes. Ele escreveu "A viagem do elefante" (em 2008) que conta a saga do elefante Salomão ao viajar de Portugal para Aústria. Passa 200 páginas, só falando disso. Sem inteção de desdenhar deste excelente livro. Ele escreve muito bem, claro, Saramago é Saramago. Que não é um elefante, mas tambem gosto dele.

Além deste, existem vários livros infantis com elefantes em "papéis principais". Não lembro de nenhum nesse momento, mas devem ter vários sim. Inclusive, lembro de ter visto, na livraria, um livro em formato rechonchudo de elefante.

Ah, e os elefantes são tão importantes que existe um deus indiano com cabeça de elefante. Ganesh é o nome dele. E eu tenho umas duas esculturinhas de Ganesh. Já tive camiseta comprada na feira hippie, mais pela simpatia ao elefante do que tudo. Não sei ao certo qual o departamento que essa divindade-hindú comanda.

Olha como eles, os elefantes, são importantes! Nunca vi ou ouvi falar num deus com cabeça de de golfinho, por exemplo, que é um mamífero bem carismático. Ou de um deus com cabeça de girafa, que é um animal também bonito e conterrâneo africano dos elefantes.

Cara, só lembrei de filme/desenho de elefante com o Dumbo. Que não é um bom exemplo de caráter e força paquidérmicas. Lembrei, também, daquele Era do Gelo, em que tem um mamute, Manfred, que é todo corajoso, fortão e salva aquele cabeçudo nenêm dos tigres famintos.

Bom, pra começar, colocaram a voz do Diogo Vilella na dublagem do Mamute. Pô, cá entre nós, Diego Vilella não remete ninguém à força e à coragem. Sem contar que é um camarada muito baixinho e mirradinho para dublar um mamute altão e fortão.

E ainda, mamutes não contam como elefantes. Eles são cheios de pelos e fedem. Tudo bem, também nunca cheguei tão perto de um mamute para saber do cheiro. Nem ninguém, creio eu. Diz a ciência que eles foram extintos antes que o homo se tornasse erectus. Mas eles deviam feder muito sim.

Imagina só, por exemplo, tenho 3 cachorros, que também não se comparam a elefantes, embora sejam grandes. E todos eles, meio à contra-gosto, tomam banho uma vez por semana. Usam shampoo desodorizador de pelos, carrapaticida, anti-pulgas e, o principal, com fragrância de lavanda. Depois disso, secam ao sol e ganham escovadelas nos pelos, para ficar mais bonitos, parecendo cachorro de propaganda de ração. E, pasmem, vira e mexe eles ainda ficam com um cheiro de cachorro. Imagine um mamute. Quem dava banho? Quem escovava? Quem desgrudava os pedacinhos de cocô que grudava em suas ancas peludas? erca..

Portanto, o filme Era do gelo, não conta mesmo como exemplo de personagem elefântico.
Tomara que algum cineasta europeu faça um filme de elefante. Um que faça jus à todo seu esplendor e caráter, mas que não seja muito escuro ou deprimente.

Bom, a próxima parada é a minha. Fico por aqui.
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