sábado, 18 de julho de 2009

Ditados populares

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Estava eu sentado no banco do ônibus, numa terça-feira à tarde e escutei uma senhora falar para outra, cheia de propriedade, como se estivesse dando um conselho imperdível, como se tivesse chegado à conclusão naquele exato momento que - “a mentira tem pernas curtas” minha filha.

Lembrei que tenho uma listinha com os cem ditados populares mais legais. Desde pequeno sempre os achei muito interessantes. Pequenas frasezinhas feitas para implicar com os outros, para ensinar lições para as crianças ou apenas para parecer culto.

Boa parte deles aprendi na infância, de tanto que minha vó repetia, como o “ é de pequenino que se torce o pepino” ou o “muito riso, pouco ciso”, sempre usado quando eu e meus irmãos estávamos às gargalhadas no quarto, fazendo alguma besteira, e algum adulto perguntava: - O que é que vocês estão aprontando dessa vez? E agente respondia, entre risos, - Nada, nada....

Minha memória é boa para eles. Sei muitos mesmo. Às vezes escapam sem querer da minha boca, logo depois que alguem termina de contar uma situação. E me sinto um brega, um locutor de rádio AM dando conselhos para ouvintes de coração partido: - Quem com ferro fere, com ferro será ferido Roselleny. Não te preocupes, Lindomar será castigado pela vida.

Às vezes os uso propositalmente e o sujeito fica me olhando com uma cara de admiração, provavelmente pensando como escolho tão bem as palavras. “O pior cego é aquele que não quer ver” sempre causa um efeito muito bom. A pessoa fica pensando, quem é o cego? quem não quer ver? Sou eu? É minha ex-namorada? O que ela não quer ver? O que eu não vi?....

E quando eu penso que esse ditado é baseado numa história real, ele assume uma importância muito maior. Um francês que em 1600 e qualquer coisa recebeu um transplante de córneas, não gostou do que viu e pediu para que lhe extraíssem as córneas e ficar cego novamente. Como o médico não concordou, a disputa foi parar nos tribunais. http://www.reporternet.jor.br/10-ditados-populares-e-seus-significados/

Esses provérbio também encurtam uma conversa que eu não queria ter mesmo e, ainda, saio como atencioso e compreensivo. Por exemplo, noutro dia um amigo veio me contar uma história, super demorada, de uma jaqueta que ganhou de aniversário da mãe e que não era o modelo que ele gostava, porque ele não gosta da gola não sei-o-quê, da cor não sei que lá e, que a mãe sabia disso mas deu só pra implicar porque faz pouco caso dele e blá blá blá.

Primeiro, eu não acho que alguem saia de casa, vá a um shopping lotado no fim de semana, gaste um tempão escolhendo uma roupa para outra pessoa, fique horas esperando na fila do caixa e pague um dinheirão numa jaqueta, só por implicância. Não acredito que depois desse processo todo a mãe dele tenha pensado: Agora ele vai ver só! Comprei bem o modelo que ele não gosta, só de sacanagem!

Bom, não querendo ser sincero demais e dizer pro amigo: - olha cara, sua história além de chata, não me interessa e você é um ingrato, ou de ter que explicar toda o lance do shopping, correndo o risco do cara querer argumentar ainda mais e prolongar a história chata, eu, sabiamente, respondi: “a cavalo dado não se olham os dentes”.

Pronto, bastou. Ele se sentiu escutado e respondido e, ainda ficou refletindo sobre o dito.

Isso é outro ponto positivo: ninguém nunca retruca um ditado-popular. Já reparou? Quando utilizado no tom correto, a pessoa te dá um sorriso meio sem jeito, pra mostrar que entendeu a “mensagem secreta” e fica calada ou troca de assunto ou vai embora chatear outra pessoa.

Tem uns ditados que eu acho meio bestas, como: “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. Em que contexto será que a pessoa inventou essa pérola? Será que estava com um bem-te-vi na mão, viu outros dois voando e se sentiu aliviada?

Pra mim, nesses tempos ecologicamente corretos, parece mais interessantes dois voando do que um na mão. Os dois podem se acasalar, formar uma família e tirar a espécie da lista de extinção, aparecerem no Globo Repórter e serem felizes para sempre.

Já o “um na mão”, você vai precisar comprar uma gaiola, comprar comidinha de pássaro, vitamina de pássaro, brinquedinho de pássaro, além de outras coisas “indispensáveis” que o vendedor do pet shop vai te empurrar ao perceber que você não entende lhufas de pássaros. No dia seguinte seu bem-te-vi vai ficar deprimido no cantinho da gaiola nova e cara, e que o ingrato não deu o menor valor, e aí você vai levá-lo ao veterinário, que vai cobrar a consulta como se tivesse atendido um touro nelore, vai receitar uns remédios de passarinho e, ainda assim, o seu Pitangus sulphuratus vai morrer.

Por essas e outras que não utilizo esse ditado popular.

Bom, minha parada é a próxima. - Dá licença minha senhora?
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4 comentários:

Carmem disse...

Ótimo, Gá.
Vou virar frequentadora dessa parada.

Beijo,
Carmem

Thaissa disse...

Nunca gostei muito de ditados populares, sempre sou aquela que confunde a ordem das palavras, ou que tenta encaixar um que não tem nada a ver com o contexto, e no final..todos riem de mim!
Além disso acho meio chato pessoas que costumam usar muitos ditados pra se expressarem.

Mas seu texto está ótimo!
Me chama um dia pra andar de ônibus com você?
Bejo

Semi-alfabetizada disse...

os ditados se apoderam de mim várias vezes. quando caio em mim, já falei. é horroroso, parece que baixa um santo!

Le Graib disse...

Acho que é uma coisa genética então....