terça-feira, 15 de setembro de 2009

Tempo e pão de queijo



O tempo é uma entidade estranha. Meio genioso, meio arredio. Quanto mais se precisa, menos dele se tem. E quando não se tem necessidade alguma dele, ele sobra, se esbanja e pode até transformar-se em tédio, se tiver tempo para isso.

Esses dias eu estava atendendo em Samabaia Sul, fui para a parada de ônibus as 19:00. (Queria ter ido antes, bem verdade, mas a família do paciente, muito gentil, assou pães de queijo e me serviu café na única xícara da casa.) Bom, fiquei até as 20:30 esperando por um ônibus que resolveu não passar naquele dia. Cansado de esperar no escuro, numa parada de ônibus caindo aos pedaços, peguei um ônibus qualquer, só pra sair de lá e, depois, peguei mais um para chegar em casa, as 21:30.

Achei uma hora e meia um tempo muito longo de espera. Quem tem tanto tempo sobrando pra ficar na espera?

Era um lugar bem pobre, talvez umas das regiões mais pobres de Brasilia. Resolvi desabafar com o único companheiro que ainda permanecia na parada. Ele riu discretamente e me contou que já havia ficado mais de 3 horas ali esperando a condução pra voltar pra casa.

Tempo é dinheiro mesmo. Quem tem dinheiro não suporta perder tempo. Não aguenta esperar alguns minutos, quanto fará horas. Não consigo imaginar passageiros aguardando em silêncio por um avião atrasado em 3 horas. Sabe-se lá quantos "você sabe com quem está falando" seriam usados como ameças em vão, no guichê da compania aérea. "Isso é um absurdo" se torna palavra de ordem, saindo de quase todas as bocas. Os mais exaltados e os mais bem vestidos seriam estrategicamente deslocados para uma sala VIP e seriam silenciados com amendoins e black labels.

Já reparou que é só um vôo atrasar que quase todos os passageiros começam a perder negócios milionários ou reuniões mais importantes que jogo de final de copa do mundo?

Bom, eu não ia a reunião alguma, nem ia fechar negócio milionário. Eu apenas queria chegar em casa e tomar um banho depois de um dia de trabalho. Eu e aquelas pessoas que também aguardaram pelo ônibus. Não fomos transferidos para sala VIP, não ganhamos amendoins e nem pedido de desculpas. Apenas ficamos lá, em pé, numa parada de ônibus sem luz e sem ônibus.

Estranho esse pensamento coletivo que os que não tem dinheiro tem tempo a perder. Seja esperando ônibus, esperando atendimento no hospital publico, esperando vaga em colégios...

Se o ditado diz que tempo é dinheiro e a matemática diz que a ordem dos fatores não altera o produto, logo, dinheiro é tempo. Portanto, quem não tem dinheiro de sobra também não tem tempo de sobra. Não deveria esperar horas por ônibus, médicos, etc.

Igorando o ditado e a matemática, Tempo é tempo e pronto. Ninguem tem sobrando pra disperdiçar. Seja rico ou pobre.

Cientista algum sabe como pará-lo ou, sequer, reduzir sua velocidade. O tempo passa depressa para todos. Quando menos se percebe, no momento em que se está distraído com tantas ocupações ele passa. Não avisa, não buzina e nem dá tchauzinho. Só passa e pronto. E nos deixa velhinhos, saudosos, chorosos... pensando no que poderia ter sido.

Mas, já dizia Aldir Blanc, na canção Resposta ao tempo, "Mas fico sem jeito calado, ele ri. Ele zomba
do quanto eu chorei, porque sabe passar e eu não sei." http://letras.terra.com.br/nana-caymmi/47557/
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3 comentários:

Glauco disse...

e o tempo que a gente passou lendo?

Gabriel Lavoura disse...

Pior seria se o tivesse gasto esperando por um onibus.

Gatapininha disse...

Olá
Desejo um Feliz Natal na companhia de quem mais amas e um ano novo cheio de saúde e alegria:)
jokas